A Casa do Arqueólogo 🏚







  Ainda antes de acabar o ano, trago aqui para o blog mais uma humilde casinha, fruto de mais um longo Sábado dedicado à exploração de locais esquecidos por uma determinada zona do país.
  Este local encontra-se num estado de degradação demasiado avançado e, confesso, que para conseguir certas perspectivas acabei mesmo por passar alguns riscos, mas a paixão por este passatempo é sempre mais forte, embora eu seja uma pessoa cuidadosa acima de tudo.
A casa já se encontra demasiado vandalizada e, se calhar, aos olhos de outros fotógrafos até pode ser um lugar sem interesse quando na verdade não é bem assim.
Aqui nasceu e cresceu um reconhecido arqueólogo e jornalista, cujo nome não irei divulgar pois levaria facilmente à localização exacta desta casa. Nascido em Outubro de 1888, passou toda a sua infância na aldeia onde esta casa se localiza até que seguiu a sua licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra em 1911 e por ali se manteve pela cidade estudantil até à data da sua morte (Junho de 1944). Mas muito antes disso e, apenas um ano após concluir a sua licenciatura, este reconhecido senhor foi conservador do Museu Etnológico Português e, 3 anos depois (1915), ocupou o mesmo cargo no Museu Nacional de Arte Antiga.
De destacar que, esta relevante figura foi eleita Oficial da Ordem Militar de Sant'lago de Espada em 3 de Abril de 1920. Este título é uma importante distinção de mérito atribuída pelo chefe de Estado aos cidadãos portugueses que se notabilizem por méritos pessoais, cívicos ou militares e, assim, anexar o seu nome numa lista de personalidades que em muito contribuíram para este país. Na altura, esta menção fora atribuída pelo então chefe de Estado António José de Almeida que viu neste arqueólogo e historiador, um exemplo de determinação e empenho nas suas mais variadas tarefas mas também um homem que sempre defendeu o total acesso à cultura e ao conhecimento para todos.
  Apartir de 1921, exerceu também funções como professor universitário na sua amada cidade de Coimbra, primeiro leccionando Estética e História da Arte e, já em 1923, começou a dar aulas também na disciplina de Arqueologia
Mais tarde, em meados de Novembro de 1929, dirigiu o Museu Machado de Castro em simultâneo também com a sua função de director do Diário de Coimbra. De salientar também que, na vida jornalística, este senhor foi secretário de redacção da revista Atlântida e também colaborou diversas vezes para as revistas Contemporânea e Feira da Ladra.
No ramo arqueológico, de destacar as suas intervenções na Villa Romana de Freiria, em Anta de Pavia e também na escavação sistemática de toda a área contígua à muralha leste de Conímbriga.
Sempre se destacou pela sua ambição e, em 1935 concluiu o seu doutoramento em Letras na respectiva Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
  De facto, não consegui apurar quais as causas da morte desta figura de relevo, faleceu com apenas 55 anos de idade e, quase de certeza que esta casa está ao abandono mais ou menos desde o ano da sua morte (1944). 
Não consegui obter também nenhuma informação sobre possíveis herdeiros, pois a presença de registos no interior é praticamente nula e só consegui descobrir a identidade deste senhor através de um pequeno verso escrito na parte de trás de uma fotografia muito antiga.
  A minha exploração nesta casa, como já referi acima, foi bastante arriscada devido à estrutura já praticamente em fase terminal da habitação. Confesso que, por momentos, achei que estaria mais alguém no seu interior, pois escutei ruídos oriundos do piso superior e, apressadamente, me desloquei ao exacto local para verificar, mas na verdade era apenas um pombo meio assustado que por lá vagueava, um clássico susto que este tipo de aventuras por vezes proporciona.
Cerca de meia hora foi o suficiente para captar as imagens da casa que mais me chamaram à atenção, pois quem realmente gosta destes locais acaba por ver beleza mesmo no meio do caos que a inevitável destruição temporal acarreta. Ainda assim, neste tipo de habitações senhoriais, há sempre detalhes únicos da época que, hoje em dia, já não são destacados no interior das habitações.









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