A Casinha Azul 🏚

  As possíveis causas para o abandono de um local, neste caso em concreto de uma casa de família, são sempre vastíssimas. Podem ir desde a conflitos entre herdeiros na disputa pela propriedade que dura anos a fio, na existência de descendentes que estão longe e nunca mais regressaram à terra natal ou então simplesmente não há mais descendência e as propriedades acabam por ficar totalmente entregues à decadência natural do passar dos anos, esta última possibilidade é certamente a mais comum na maioria dos lugares que visito e bem patente nesta casinha humilde, em que outrora fora habitada por uma família pequena no meio de uma aldeia bem longe dos grandes centros e onde as casas desabitadas são em maior número do que as habitadas.
  Encontrei esta casinha numa caminhada por entre uma aldeia típica do nosso interessante e tão esquecido interior de Portugal. O seu aspecto exterior não deixava margem para dúvidas quanto ao seu nível de abandono com a vegetação a começar entrar pelas janelas e uma decadência exterior que fazia adivinhar a degradação interior. 
De máquina fotográfica em punho lá me atrevi a avançar pelo ferrugento portão que estava apenas encostado, assim que entrei na casa confesso que fiquei surpreendido pelo facto da mesma já ter sido bastante remexida e saqueada, mesmo estando localizada numa das aldeias mais remotas onde já estive, o que vem também a confirmar os larguíssimos anos de abandono deste local que, infelizmente, não conseguiu resistir na totalidade às visitas mal intencionadas e que certamente terão levado muita coisa que teria valor. 
Ainda assim, a casa ainda tinha bastantes coisas, mobiliário e elementos decorativos típicos do Portugal rural de à 30/40 anos atrás e infelizmente praticamente nenhum registo que me desse a conhecer um pouco das pessoas que por aqui passaram a sua vida, muitas das vezes é assim, não conseguimos desvendar praticamente nada da história destes locais mas a sensação de nostalgia, de viajar atrás no tempo e de eternizar estes locais recheados de memórias são sensações que me completam e alimentam cada vez mais este meu vício da descoberta, uma paixão que poucos entendem e actualmente pouco respeitada por outros que também se insurgem nestas aventuras pelos abandonados, mostrando falta de respeito para com os locais e não respeitando o sigilo necessário e inerente a estas aventuras.
  Foi uma descoberta surpreendente até, confesso que a casa me parecia ainda mais pequena pelo exterior, assim que entrei descobri um corredor que me deu acesso às restantes e mais interessantes divisões desta casinha azul, agora aqui eternizada para tentar proporcionar mais uma viagem atrás no tempo a quem está desse lado.