O Palácio Real 🏚






  O local que venho aqui apresentar hoje, seguramente que é um dos abandonados neste país com maior história. Um palacete cuja sua construção inicial remonta acerca de 300 anos atrás e que esteve envolvido numa batalha legal que durou mais de 70 anos.
  O Srº Manuel Lopes Bicudo, um dos advogados do antigo tribunal supremo de Portugal, decidiu aproveitar um dos seus terrenos para construir uma quinta de habitação para si e para a sua mulher, isto no ano de 1713. Passaram assim 18 anos quando Bicudo decidiu vender esta propriedade a Diogo de Mendonça Corte-Real, que era Secretário de Estado durante o reinado de D. João V.

Após a propriedade ter sido passada para o Secretário de Estado, esta sofreu várias modificações à sua estrutura e onde talvez a modificação mais notória tenha sido o nascimento de uma capela interior, que continha sobre o altar, uma pintura de Anunciação. Pelo que descobri nas minhas pesquisas, esta obra teria ficado mesmo a cargo de um dos pintores da corte de D. João V, o francês Pierre-Antoine Quillard. Trabalho esse que, segundo se consta, terá mesmo ficado destruído após o famoso e catastrófico terramoto de 1755.

  Corte-Real, falecido em 1736, dedicou os seus últimos 5 anos de vida a organizar extravagantes bailes e galas no interior desta propriedade, onde entre os inúmeros convidados destas festas, destacava-se a imponente presença em algumas delas, do rei de Portugal D. João V, com quem mantinha uma relação muito próxima.

  Após o falecimento do Secretário de Estado, a casa foi herdada pelo seu filho que, curiosamente herdou também exactamente o mesmo nome que o pai, Diogo de Mendonça, que também serviu o rei que sucedeu D. João V, falo então de D. José I. Serviu então o actual rei na altura com o cargo de Secretário de Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos, o que acabara por ser um cargo de pouca dura para Diogo de Mendonça, pois D. José I estava bastante insatisfeito com o trabalho de Diogo, ordenando assim que o mesmo se retirasse de Lisboa em definitivo.

  Durante estes primeiros anos de exílio, esta propriedade ficou a cargo de uma governanta francesa, de nome Maria Catherine du Pressieux, sensivelmente até 1758, ano em que Diogo de Mendonça arrendou a casa à sua filha, Maria Francisca e ao seu marido D. José Manuel que, curiosamente era o irmão mais novo de Diogo.

Falava-se que Diogo queria mesmo deixar a propriedade em nome da sua filha, mas o facto de Maria Francisca não conseguir cuidar da casa devidamente levou a que Diogo recuasse nessa sua intenção, pois a propriedade já estaria a ficar bastante degradada por mero desleixo. Em meados de 1764, Maria Francisca acabou por ser exilada e foi precisamente apartir daí que começaram as longas disputas entre familiares.

  A justiça acabou por atribuir a propriedade em nome da Santa Casa da Misericórdia, o conselho que representava uma boa parte da família. Mas após a propriedade lhes ter sido atribuída, rapidamente trataram da sua venda.

E assim foi passando de proprietário em proprietário com o passar das décadas este imponente palácio, até que em 1890, foi adquirido pelo médico Fausto Lopo Patrício de Carvalho, que efectuou necessárias e profundas obras de restauro na casa e nos jardins da propriedade, projecto esse que ficou a cargo dos arquitectos Vasco Regaleira e Jorge Segurado. A propriedade foi ficando assim na posse do legado da família Carvalho até 1990, e desde então foi parar às mãos dos bancos, pertencendo actualmente a um fundo do BES.

  Este lindo palácio encontra-se já abandonado à praticamente meio século e oficialmente à venda desde 2010 por um valor que ronda os 17 milhões de euros. A imobiliária detentora do espaço diz que há um projecto para tornar esta quinta num hotel de charme de cinco estrelas, um procedimento que parece que virou moda. Mas na verdade, a propriedade encontra-se à imenso tempo praticamente devoluta e acessível a qualquer pessoa, um lugar que peca imenso por não ter vigilância. Actos de vandalismo e de saques já foram imensos, pois nota-se bem a falta da maior parte dos azulejos setecentistas que embelezavam a fachada exterior e interior da casa.

  Visitei este espaço duas vezes, na primeira vez mais ou menos à 2 anos atrás onde me aventurei a explorar o local sozinho e lembro-me que na altura fiquei fascinado pela grandiosidade do mesmo, um lugar que tinha na minha lista à imenso tempo. Mas devido a um problema com o meu computador, acabei por perder todas as fotos e decidi ir ao local novamente mais recentemente, aproveitando assim para conseguir diferentes perspectivas e de melhor qualidade.

Assim foi, desloquei-me a este palácio numa manhã de Sábado em conjunto com um amigo que também queria muito fotografar o local, a nossa visita decorreu sem problemas e de forma bastante descontraída. Uma das diferenças brutais que notei entre as minhas duas visitas, foi a abundante presença de graffittis, principalmente na zona da capela, mas de facto é algo que já seria de esperar devido à fácil acessibilidade que existe até ao interior da propriedade. Resta saber até quando irá permanecer assim um dos palácios mais históricos e emblemáticos da cidade, um futuro áureo que tarda em chegar e que apenas permanece no papel.
































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