A Quinta do Laboratório 🧪





  Hora de trazer um novo local aqui para o blog e, mais um daqueles que me deu um gosto especial fotografar devido à importância que teve na época e às histórias que estas paredes testemunharam, quer seja de quem aqui habitou bem como de todos aqueles que por aqui laboraram. 
  Já visitei este local há algum tempo atrás mas só agora decidi partilhar fotos do mesmo, pois andei algum tempo em busca da história deste lugar e parece que calhou numa altura bastante oportuna, pois recentemente toda a propriedade foi adquirida por um particular e actualmente encontra-se em obras.
  Enquanto explorava este local reparei que uma das divisões era uma espécie de laboratório com imensos frascos, uns vazios e outros com amostras no seu interior, laboratório esse que libertava um odor bastante agradável e que se espalhava pelas divisões vizinhas.
A razão existencial desse laboratório é comprovada pelo facto de que este local foi uma antiga fábrica de ginja e outros licores, cujo nome original irei salvaguardar para preservar a identidade da propriedade.
  Foi no inicio do século XX que esta e outras empresas deste mesmo ramo começaram com grandes produções e comercialização do licor de ginja, um licor com uma identidade muito própria e que, de certa forma, se revelava ser uma certa forma de estar na sociedade, começando a ser equiparado com outros pequenos vícios, como o café ou até mesmo com o tabaco.
Esta empresa em particular foi bastante famosa e teve alguns dos seus licores a serem reconhecidos em feiras mundialmente conhecidas e totalmente dedicadas a este tipo de bebidas, como a feira de Sevilha e também a de Barcelona, onde nesta última, alguns dos seus licores acabaram mesmo por serem premiados com distinção.
  Não consegui descobrir qualquer dado sobre os proprietários da propriedade, pois na habitação não havia já muita presença de registos que me ajudassem nesse aspecto e o que consegui descobrir devo a um senhor que vive nas redondezas que, muito amavelmente, me passou todo o seu conhecimento sobre este local.
O senhor José contou-me que, no que toca aos proprietários, após o falecimento dos mesmos, a casa ficou fechada e entregue ao abandono. Na quinta e no laboratório já não existia a produção de ginja pois a empresa acabou por ir à falência devido à baixa procura do produto em questão, passando a ser esta propriedade nos seus últimos anos, meramente um local de habitação para os seus primários proprietários.
O senhor contou-me também que tinha dois grandes amigos que passaram grande parte da sua vida laboral a trabalharem nessa mesma propriedade, a dona Carlota e o senhor Meireles, infelizmente já ambos falecidos. A dona Carlota ainda tem raízes familiares a viverem lá paredes meias com esta antiga propriedade onde passou anos a fio a trabalhar.

  Para além do laboratório, esta casa tinha divisões bastante interessantes. Uma sala nobre rodeada de lindos painéis azulejares ainda incrivelmente resistidos ao abandono, dois quartos mobilados com mobília bastante característica deste local e um piano, muito provavelmente, na divisão mais escura da casa, no que se traduziu num desafio acrescido para o conseguir fotografar com alguma qualidade. Confesso que, acabei por ficar surpreendido ao encontrar um piano ali, numa divisão totalmente vazia, onde só ali se encontrava o instrumento musical no meio da densa escuridão.
Tanto no laboratório bem como no sótão da casa, existiam imensas caixas com amostras de vinho e, muitas delas, até eram amostras do mais que reconhecido Vinho do Porto.
  De facto, está mais que explicado o aroma agradável proveniente do laboratório, pois as amostras ali presentes eram muitas e, muitas delas com os frascos abertos. Era ali que se preparava ao detalhe a junção de todos os componentes ideais para fabricar a tão famosa e deliciosa ginja, um licor de excelência na altura.
  Foi uma exploração que decorreu sem qualquer sobressalto, visitei este local sozinho e acabou por ser um excelente encontro com um local diferente do comum e, bem como, com toda a natureza que envolvia o mesmo. Actualmente e, felizmente, já não é mais um local abandonado, pois um particular está encarregue de dar uma nova vida a esta grandiosa propriedade.






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