O Palacete de Dona Antónia 🏚




  Neste primeiro post de 2021 trago um local bastante conhecido e, infelizmente, já praticamente em ruína mas ainda assim é um lugar singularmente belo e que não deixa indiferente a quem por ali passa.
  Este esplendoroso palacete, localizado num dos recantos mais pacíficos e inspiradores que já tive oportunidade de conhecer, serviu em grande parte da sua história, de habitação a uma senhora muito nobre na região, oriunda de uma família abastada e que possuía um vasto império vinícola.
  Nascida em 1811, Dona Antónia foi bastante inovadora na forma como devia explorar os seus terrenos agrícolas. Chegou a viajar para fora do país na busca de informação por meios mais sofisticados para a produção de vinho e investiu fortemente em novas plantações de vinha em zonas mais expostas ao sol.
O facto de se ter tornado viúva muito cedo foi o grande combustível para despertar em si a sua vocação empresarial. Comprou quintas importantes na região e contratou inúmeros colaboradores para os seus terrenos. 
Em algumas conversas que tive com pessoas de mais idade, foi-me dito que a Dona Antónia, apesar de todo o sucesso que teve e alguns actos solidários para com pessoas e instituições da região, tinha um critério de selecção que, aos olhos da sociedade actual seriam repugnantes, pois só aceitava pessoas do sexo masculino para trabalhar nos seus terrenos e a respectiva remuneração era muito baixa, quando as pessoas trabalhavam praticamente "de sol a sol". No entanto, essa era uma práctica "normal" naquela época e, como Dona Antónia, muitas outras famílias da mesma classe agiam de forma semelhante.
  No ano de 1896 D. Antónia acaba por falecer e deixa um vasto legado aos seus proprietários com aproximadamente trinta quintas que detinha em seu poder e uma fortuna bastante considerável.
  Anos mais tarde, este grandioso palacete foi vendido pelos herdeiros de D. Antónia a um reconhecido coronel que fez aqui a sua nobre habitação.
  A decadência deste belo edifício está intimamente ligada com o abandono que toda a zona à sua volta sofreu, com algumas valências que atraíam pessoas a serem desactivadas e, quando o coronel deixou a zona, este edificio não voltou mais a ser habitado
  No dia em que me dediquei a fotografar este local, em pé de conversa com alguns vizinhos, em especial uma senhora contava-me algumas visitas que ela mesma teve ao interior deste palacete quando ainda estava na posse do coronel e me descreveu como o local mais grandioso que já estivera e, de facto, consegue-se ainda hoje perceber alguma dessa grandiosidade, não só pela exuberância da fachada exterior do edifício mas também como podem ver no interior do mesmo, por todos os tectos trabalhados de forma minunciosa arquitectonicamente, definitivamente um marco deste tipo de edificações senhoriais daquela época. 
  Apesar do avançado estado de degradação do local, não foi nada fácil aceder ao seu interior, tive que me sujeitar a passar no meio de um amontoado de silvas que ainda não tinham testemunhado a passagem de outro alguém por elas mesmas e, confesso que não levava o tipo de roupa mais apropriado para o efeito.
Finalmente dentro do palácio e o que me saltou à vista foi também a fragilidade do soalho em madeira, praticamente em fase terminal e que não resistirá muito mais tempo. Os tectos trabalhados nas divisões grandiosas que estão a ser totalmente devoradas pela destruição temporal são, sem dúvida nenhuma, o ex-líbris deste local que actualmente denuncia a grandeza de outros tempos no seu mais puro estilo "decay".
  Toda a minha exploração deste local decorreu sem qualquer sobressalto. Fotografei-o já quase em plena hora do pôr do sol e, no que toca às fotografias exteriores, fiquei bastante agradado com o contraste que as cores outonais deram às mesmas, transmitindo ainda de forma mais simbólica, toda a magia que este esplendoroso local ainda transmite.



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